Mesmo com os avanços em políticas públicas e no uso de tecnologias assistivas ainda persistem barreiras na comunicação, na educação e no acesso a serviços. Essas barreiras limitam o exercício pleno da cidadania por parte da população surda.
Por isso, este artigo busca esclarecer, entre outras questões, quem é o surdo, quais são os seus direitos e que soluções estão ajudando a transformar a vida da comunidade surda. Entre essas ferramentas destacamos o ICOM, plataforma de tradução em Libras em tempo real, que integra ouvintes e não ouvintes em ambientes corporativos. Conheça a solução e saiba como tornar a sua empresa verdadeiramente inclusiva!
O que é um surdo?
Uma pessoa surda é aquela que possui perda auditiva significativa, geralmente de grau severo a profundo, que a impede de compreender a fala por via auditiva, mesmo com o uso de aparelhos.
Muitas pessoas surdas se comunicam prioritariamente por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras), uma língua completa, com estrutura e gramática próprias, reconhecida oficialmente no Brasil. Assim, o termo “surdo” também está relacionado a uma identidade cultural e linguística compartilhada por um grupo social.
Essa identidade não é definida apenas pela perda auditiva, mas pelo uso da Libras pela participação em espaços de convivência entre surdos e pelo compartilhamento de experiências comuns. É importante compreender que, para muitas pessoas surdas, a Libras é a língua materna, e o português escrito, uma segunda língua aprendida posteriormente.
É necessário entender, ainda, que a surdez pode surgir de diferentes formas: congênita, adquirida na infância ou ao longo da vida. Cada caso traz impactos distintos sobre o desenvolvimento da linguagem e das habilidades sociais, exigindo abordagens específicas na educação e na comunicação.
A diversidade de experiências dentro da comunidade surda é ampla, e reconhecer essa multiplicidade é essencial para políticas públicas e ações inclusivas mais eficazes.
É correto dizer surdo?
Sim, é correto dizer surdo. O termo “surdo” é correto e amplamente utilizado pela própria comunidade, mas expressões como “surdo-mudo” podem ser evitadas, pois são incorretas e carregadas de preconceito. A maioria das pessoas surdas possui capacidade de fala, mas muitas não a utilizam por falta de compreensão auditiva.
Chamar alguém de “surdo” reconhece sua identidade e respeita sua forma de comunicação. O uso adequado da terminologia também contribui para a valorização da cultura surda e para o combate ao capacitismo.
Outras opções socialmente aceitáveis são “pessoa surda” e “pessoa com deficiência auditiva”. A valorização da terminologia correta não é apenas uma questão de semântica, mas também de respeito e reconhecimento político.
A escolha dos termos carrega consigo uma história de lutas por visibilidade, cidadania e pertencimento. Ao adotar a palavra “surdo”, respeitamos a forma como essa população se autoidentifica e reforçamos sua legitimidade enquanto grupo social, com direitos, cultura e língua próprios.
Quais são os tipos de surdez?
Existem diferentes tipos de surdez, podendo ser condutiva, neurossensorial, mista ou central, compreenda mais detalhes a seguir:
- Surdez condutiva: afeta o ouvido externo ou médio. Pode ser causada por infecções, acúmulo de cera ou anomalias ósseas. Geralmente, é reversível com tratamento clínico ou cirúrgico;
- Surdez neurossensorial: afeta o ouvido interno (cóclea) ou o nervo auditivo. Pode ter causas genéticas, congênitas ou resultar de exposição a ruídos. É o tipo mais comum entre os surdos profundos;
- Surdez mista: combina componentes das duas anteriores, exigindo abordagens terapêuticas combinadas;
- Surdez central: relacionada ao processamento cerebral da audição. Ocorre quando há falhas na interpretação dos sons, mesmo que a audição física esteja preservada.
Qual a diferença entre surdos e deficientes auditivos?
Embora sejam muitas vezes utilizados como sinônimos, os termos “surdo” e “deficiente auditivo” representam condições diferentes, com implicações específicas para a forma como cada pessoa se comunica e se relaciona com o mundo. Compreenda as diferenças.
Surdos
São indivíduos com perda auditiva severa ou profunda que, em geral, não se beneficiam significativamente do uso de aparelhos auditivos como recurso assistivo.
Eles se comunicam principalmente por meio da Libras e muitos se identificam como membros de uma comunidade linguística e cultural própria.
Deficientes auditivos
Incluem pessoas com algum grau de perda auditiva (leve, moderada ou severa) que ainda conseguem se comunicar por meio da língua oral, especialmente com o uso de aparelhos auditivos ou implantes cocleares que auxiliam no dia a dia.
Diferente dos surdos, muitos deficientes auditivos não utilizam Libras e não se reconhecem como parte da comunidade surda. Do ponto de vista clínico, considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de 41 decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz.
Essa distinção entre surdo e deficiente auditivo é essencial para garantir que cada grupo receba o suporte adequado.
Enquanto o deficiente auditivo pode precisar de recursos sonoros amplificados, o surdo requer recursos visuais, como intérpretes, vídeos em Libras e materiais bilíngues. A compreensão correta desses perfis influencia diretamente políticas públicas de acessibilidade, estratégias educacionais e atendimentos em saúde e serviços.
Quais são os direitos dos surdos?
As pessoas surdas no Brasil têm uma série de direitos garantidos por lei, que visam assegurar sua cidadania plena, com acesso à educação, saúde, informação, trabalho e participação social. Esses direitos estão consolidados em legislações como a Constituição Federal, a Lei nº 10.436/2002, o Decreto nº 5.626/2005 e a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015). A seguir, destacamos os principais direitos das pessoas surdas:
- Reconhecimento da Libras como língua oficial: a Lei nº 10.436/2002 reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão, garantindo seu uso em instituições públicas e privadas;
- Educação bilíngue: a educação da pessoa surda deve ocorrer, preferencialmente, em ambiente bilíngue, com Libras como primeira língua e o português escrito como segunda, conforme prevê o Decreto nº 5.626/2005;
- Presença de intérpretes de Libras: instituições públicas e privadas, especialmente na área da educação, devem disponibilizar intérpretes de Libras para garantir o acesso ao conteúdo;
- Acessibilidade à informação: meios de comunicação, eventos públicos, plataformas digitais e serviços essenciais devem oferecer conteúdo com interpretação em Libras ou legendas;
- Acesso à saúde com comunicação adequada: hospitais, postos de saúde e serviços de emergência devem estar preparados para atender pessoas surdas com o auxílio de intérpretes ou ferramentas tecnológicas;
- Participação em concursos públicos: pessoas surdas têm direito à adaptação de provas, presença de intérpretes e outros recursos que assegurem igualdade de condições;
- Acesso à justiça: o Judiciário deve garantir a presença de profissionais fluentes em Libras em todas as fases do processo, desde depoimentos até audiências;
- Incentivo ao uso de tecnologias assistivas: o Estado deve promover o desenvolvimento e a oferta de soluções tecnológicas que melhorem a comunicação e autonomia da pessoa surda.
O cumprimento efetivo desses direitos é um passo essencial para combater a exclusão social e garantir a plena inclusão da comunidade surda na vida pública e privada.
Mais do que adaptações pontuais, é necessário promover uma mudança estrutural e cultural que valorize a diversidade humana e reconheça a Libras como um patrimônio linguístico nacional.
Além da legislação brasileira, outras iniciativas internacionais ajudam a ampliar a consciência sobre os direitos da pessoa surda. Em Portugal, por exemplo, a Carta de Direitos da Pessoa Surda, aprovada em 2001 durante o III Congresso Nacional de Surdos, na cidade de Beja, estabelece uma série de princípios fundamentais.
Entre os principais, estão:
- Direito à língua gestual: a pessoa surda deve ter acesso pleno e gratuito à língua gestual, reconhecida como meio de comunicação oficial;
- Participação na vida associativa e política: é garantido o direito de se organizar em associações e participar plenamente da vida cívica e política;
- Direito à educação bilíngue e culturalmente sensível: a educação deve promover o desenvolvimento da personalidade surda, respeitando sua história, cultura e língua;
- Acesso à informação, cultura e lazer: a pessoa surda deve ter acesso a todas as formas de produção cultural e informacional por meio da língua gestual;
- Serviços de interpretação e acessibilidade: o serviço de intérprete de língua gestual deve ser gratuito e garantido nos diferentes contextos sociais, incluindo saúde, justiça, educação e lazer.
Esses princípios reforçam a ideia de que a surdez não é uma limitação, mas uma diferença que precisa ser respeitada e acolhida. A defesa desses direitos, tanto no Brasil quanto em outros países, fortalece a luta global por inclusão, equidade e dignidade para todas as pessoas surdas.
Quais tecnologias ajudam os surdos no dia a dia?
A inclusão digital tem sido uma aliada essencial da comunidade surda. Entre as tecnologias mais utilizadas estão:
- Aplicativos de tradução automática para Libras;
- Videochamadas com intérpretes humanos em tempo real;
- Legendas automáticas em plataformas de vídeo;
- Aparelhos auditivos e implantes cocleares;
- Sistemas de alerta visual para emergências (com luzes piscantes e vibração, por exemplo).
Esses recursos facilitam a comunicação, garantem autonomia e promovem igualdade de oportunidades. No entanto, o acesso a essas tecnologias ainda é desigual no Brasil, e é preciso que empresas e instituições invistam em soluções acessíveis e escaláveis.
Além disso, tecnologias de reconhecimento de fala e de tradução simultânea estão cada vez mais sofisticadas, ampliando a autonomia dos surdos em diferentes contextos, desde o atendimento em serviços até a participação em ambientes educacionais e corporativos.
O uso de QR Codes para ativar atendimentos com intérpretes, por exemplo, já é realidade em diversas instituições públicas e privadas.
Conclusão
Para quem vive na pele os desafios da surdez, como o educador e especialista em Acessibilidade e Inclusão, Fábio de Sá, ser surdo é também reivindicar o direito de existir plenamente em todos os espaços com autonomia, dignidade e respeito à própria língua.
Ele destaca que, por muito tempo, surdos dependeram de familiares para se comunicar com médicos, advogados e prestadores de serviço. “Hoje podemos contar com tecnologias assistivas como a plataforma do ICOM, que serve de intérprete online nos ajuda a superar essa tremenda barreira”, esclarece Fábio.
A visão de Fábio reforça que tornar o atendimento acessível não é apenas uma exigência legal: é uma forma de valorizar pessoas e construir uma sociedade mais justa. Quer tornar seu serviço mais acessível para pessoas surdas? Conheça agora o ICOM e saiba como levar a tradução em Libras em tempo real para sua empresa.
Este conteúdo contou com a colaboração de Fábio de Sá, educador surdo, especialista em Acessibilidade e Inclusão, com mais de 20 anos de experiência no ensino de Libras. Integrante do time do ICOM, atua pela promoção de uma sociedade mais inclusiva e diversa.